Renegociação de dívidas cresce com economia fraca
Por: Fabio Graner
Em meio à recessão econômica e à fraqueza do mercado de crédito, as renegociações de dívidas das famílias com o sistema financeiro são um dos poucos segmentos ainda com dinamismo. Dados do Banco Central (BC) mostram que o saldo médio dessas operações no terceiro trimestre cresceu 2,1%, na comparação com a média dos três meses anteriores.
O ritmo de expansão foi menos intenso do que o verificado nos dois trimestres iniciais deste ano, e em setembro houve até uma estabilização, mas ainda assim o dado do trimestre passado mostra que as renegociações estão na direção contrária do restante do crédito livre (para pessoas física e jurídica) – cujo saldo médio caiu 1,5% no terceiro trimestre em relação ao período anterior.
Economistas acreditam que a tendência de crescimento continua e pode ser favorecida nos próximos meses por fatores como a queda na taxa básica de juros (Selic). Mas também apontam que o aumento das renegociações é mais um indicador de que a atividade econômica segue em ritmo frustrante.
O economista-chefe da Serasa Experian, Luiz Rabi, destaca que as renegociações das famílias são um dos poucos itens no mercado de crédito que sobem acima da inflação. Ele comenta que a inadimplência das pessoas físicas tem se estabilizado, com ligeira redução, indicando que os consumidores estão buscando colocar suas contas em dia e limpar seus nomes no mercado. “O consumidor está mais preocupado em tirar o nome da inadimplência do que expandir seu endividamento”, disse Rabi.
Para ele, a tendência é que o crescimento das renegociações continue ao longo do tempo, favorecido por alguns fatores. Rabi cita a queda da inflação e da taxa de juros e as receitas extras de fim de ano, como o décimo-terceiro salário e férias. “O fim de ano é propício às renegociações”, afirmou, lembrando que no próximo dia 8 a Serasa inicia um mutirão para estimular renegociações de dívidas de pessoas físicas com empresas e bancos. “Antes só havia fatores atrapalhando, mas agora, com a inflação bem menor e o juro começando a cair, bancos e financeiras tendem a ser mais generosos à renegociação”, disse.
Ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas destaca que os números da renegociação no terceiro trimestre reforçam a avaliação de que a ideia de recuperação mais rápida do país não está respaldada pela realidade. “A economia está frustrando quem esperava recuperação rápida”, disse.
Ele explica que as famílias estão em um processo de desalavancagem (redução de dívida) bem mais acentuado do que as empresas, cujo nível de endividamento ainda é muito preocupante. Nesse contexto, explica, o aumento das renegociações deve continuar, mas isso não deve implicar em retomada rápida do consumo. “As famílias estão desalavancando mais rápido que as empresas, mas estão sem consumir e sem tomar crédito novo”, disse, lembrando que o país vive um momento de elevado nível de desemprego e queda da renda.
Preocupado com o nível de endividamento das empresas, o economista defende que o governo faça uma espécie de “Proer das empresas”, estimulando renegociações de dívidas do setor privado com o sistema financeiro por meio da liberação de depósitos compulsórios. “O quadro requer cuidado, precisa de medidas mais pró-ativas para consertar a situação”, afirmou, defendendo que esse programa também se estenda às pessoas físicas, apesar de o problema, para ele, ser menor nesse caso. Freitas também defende que a taxa de juros básica caia mais rapidamente. “Há uma austeridade excessiva. É preciso salvar o setor real da economia”, afirma.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, destaca que a desalavancagem das famílias é “irmã” da queda na atividade econômica. Ele ressalta que todos os componentes da demanda na economia estão apontando para baixo, em especial o consumo, pressionado pela queda do emprego, dos salários e pelo processo de renegociação de dívidas pelas famílias que estavam sobre-endividadas.
“O desempenho das renegociações é mais um sintoma de queda no PIB no terceiro trimestre e reforça o cenário de que a retomada será muito mais lenta do que se dizia”, afirmou.
Para ele, a esperança que surge é o Banco Central acelerar o processo de queda dos juros e estimular a retomada da atividade. “É preciso encontrar demanda nesse país”, disse Perfeito, explicando que não dá para esperar uma expansão forte do investimento com o atual nível de ociosidade na economia e com a demanda tão fraca.
Com a queda dos juros, a tendência é a de que haja aceleração no processo de renegociação de dívidas, por conta da queda nos custos financeiros. “Mas tem que se ponderar o que efetivamente acontecerá no mercado de crédito”, salientou o economista, lembrando que a redução da taxa Selic não necessariamente é repassada pelas instituições financeiras aos seus clientes.
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